Propaganda na World Series: O Anúncio Canadense que Acendeu a Ira de Trump e a Crise Tarifária

Como uma propaganda agravou a tensão comercial entre EUA e Canadá

Um comercial de cerca de um minuto, veiculado estrategicamente durante a World Series — a final da liga profissional de beisebol dos Estados Unidos —, não apenas elevou as já fragilizadas tensões comerciais entre EUA e Canadá, como também escreveu um novo e explosivo capítulo na disputa tarifária bilateral. Uma demonstração clara de como a comunicação pode moldar até mesmo as relações internacionais.

Essa peça publicitária, idealizada pelo governo da província de Ontário, foi ao ar em rede nacional na TV americana na quinta-feira, 23, e retornou à programação no sábado, 25. O timing foi, no mínimo, peculiar: a segunda veiculação aconteceu poucas horas após o então presidente Donald Trump anunciar um aumento de 10% nas tarifas sobre produtos canadenses.

O cerne da mensagem era poderoso e provocativo. O comercial utilizou trechos de um discurso clássico de Ronald Reagan, proferido em 1987, sobre comércio exterior. Na gravação, Reagan alertava que, embora medidas protecionistas possam parecer patrióticas, “a longo prazo, essas barreiras comerciais prejudicam todos os trabalhadores e consumidores americanos”.

A publicidade tinha um alvo claro: a política comercial de Trump, que já havia imposto uma tarifa de 35% sobre diversos produtos canadenses, além de taxas adicionais em setores críticos como o automotivo e o de aço. Para o Canadá, a situação é delicada, pois três quartos de suas exportações destinam-se aos EUA, e Ontário, especificamente, é um polo vital na produção de veículos do país.

Como era de se esperar, a veiculação irritou profundamente Trump. Na quinta-feira, ele utilizou sua plataforma Truth Social para declarar que encerraria as negociações comerciais com o Canadá, alegando que o anúncio havia sido criado para “interferir” no que ele chamou de “o caso mais importante de todos os tempos”.

No dia seguinte, o premiê de Ontário, Doug Ford, tentou apaziguar os ânimos. Ele declarou que o anúncio seria retirado do ar nos EUA a partir de segunda-feira, 27, “para que as negociações comerciais possam ser retomadas”, após uma conversa com o primeiro-ministro canadense, Mark Carney. Contudo, a programação original foi mantida, e o comercial continuou a ser exibido nos jogos finais de sexta e sábado.

A própria Fundação Ronald Reagan também se manifestou, criticando o “uso seletivo de áudio e vídeo” e afirmando não ter recebido solicitação de autorização para o material. O gabinete de Doug Ford, por sua vez, respondeu que os trechos são autênticos, não foram alterados e estão em domínio público, conforme reportado pela emissora pública canadense CBC.

Em uma nova publicação na Truth Social, no sábado, Trump rotulou o anúncio de uma “fraude” e defendeu que ele deveria ter sido retirado antes do campeonato. “O anúncio deles deveria ter sido retirado imediatamente, mas eles o deixaram veicular ontem à noite, durante a World Series, sabendo que era uma fraude”, escreveu ele, enquanto viajava.

Ainda em sua declaração, Trump foi incisivo: “Devido à grave deturpação dos fatos e ao ato hostil, estou aumentando a tarifa do Canadá em 10%, além do que eles pagam atualmente”, afirmou, embora sem detalhar os efeitos práticos da medida. Uma estratégia de comunicação que rapidamente se transformou em ação econômica. Quer entender o impacto de uma boa ou má estratégia de conteúdo? Visite nossa página sobre Agência de SEO e descubra como a otimização pode impulsionar seus resultados.

No campo diplomático, as tensões se intensificaram. Trump declarou a repórteres que não pretendia se encontrar com o primeiro-ministro canadense durante seus compromissos na Ásia, onde ambos participariam de encontros da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático). Na mesma viagem, no entanto, Trump tinha um encontro marcado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A relação comercial entre Estados Unidos e Canadá atravessava, de fato, um período extremamente delicado. O Canadá era, à época, o único país do G7 que ainda não havia chegado a um novo entendimento com Washington desde que Donald Trump iniciou sua escalada tarifária contra seus principais parceiros comerciais.

O confronto se aprofundou após a imposição de uma tarifa de 25% sobre quase todas as importações canadenses, de madeira a autopeças. Em resposta, Ottawa reagiu com tarifas equivalentes sobre produtos americanos. Em agosto, Trump elevou para 35% as tarifas sobre itens fora do escopo do USMCA (o acordo comercial dos países), como produtos agrícolas e madeireiros, e aumentou para 50% as cobranças sobre aço e alumínio canadenses, válidas desde junho. No mês seguinte, o governo canadense suspendeu a maior parte das tarifas retaliatórias, mantendo apenas as aplicadas ao aço, ao alumínio e ao setor automotivo.

ASSISTA AO COMERCIAL QUE REACENDEU A DISPUTA ENTRE EUA E CANADÁ

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